sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008


Mónica gostava que lhe metessem as mãos entre as pernas enquanto ainda estava vestida: os dedos a afastarem a seda das meias, a tentarem alargar o cinto de ligas, a deslizaram na pele macia das coxas, a insinuarem-se já pelo caminho dos pêlos até à humidade quente dos lábios grossos, salientes e largos da vagina, onde sentia pulsar um perturbante coração fechado.Ou uma boca cheia de sede.Deixava que as pernas subissem, os pés roçando os ombros, mas primeiro como se hesitassem, numa espécie de abraço em torno do pescoço; depois desciam de novo até aos ombros, abertas. Oferecendo-se, enquanto Pedro começava a lamber-lhe, ao de leve, as virilhas com o seu cheiro a fruto; um pequeno suor salgado a insinuar-se por dentro da saliva, dissolvendo-se na língua. E o sussurro, o gemido, eram tão baixos que ninguém saberia determinar de qual dos dois partiam.Assim, vestidos.Desde o princípio, como gostava, logo depois de chegarem ao quarto da pensão pobre para onde ele a arrastava, ambos de respiração suspensa, subindo depressa os degraus da escada nauseabunda, penumbrosa, madeira lascada, gasta pelo tempo. Pedro excitado, parava a meio para se esfregar nela, e Mónica quase gritava de gozo, pelo prazer que isso despertava nela, curvada sobre o intenso cheiro almiscarado que o pescoço dele guardava, odor a cortar-lhe a respiração, entontecida e sôfrega. «Não me quero vir já…», murmurava ele a morder-lhe os pulsos febris, breves, algemados pelos seus dedos à parede esburacada. E continuavam subindo a escada, sem fôlego, até ao último andar, patamar onde aparecia uma mulher gorda e pintada, que nas primeiras vezes lhe perguntou a idade - «por causa da polícia…», explicou; mas que nos meses seguintes se limitava a conduzi-los, sem palavras, até ao quarto que lhes alugava, quase vazio. Uma cama, uma cadeira, um candeeiro e um espelho chegavam-lhes durante as horas que ali passavam, nas quais só queriam beber-se, devorar-se um ao outro, misturando os sucos, o cuspo, o prazer, partilhando a posse.[…]


Maria Teresa Hortaexcerto de Mónica, in Intimidades,Março de 2005, Publicações D. Quixote

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